quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Vamos falar sobre adoção

Sempre quis ter um irmão. Minha mãe não pode ter outros filhos porque toma um tipo de remédio que, um dos efeitos colaterais. Até ai não podemos fazer muita coisa, não da pra lutar por uma vida e arriscar perder duas. Mas eu nunca vou esquecer o dia que alguém falou em adoção.
Lembro bem que minha mãe disse que não aceitava "criar filho dos outros". Na época, nos meus 8 ou 9 anos, eu devia até concordar, meio sem entender o que estava acontecendo direito.
Lembro também da enorme vontade que eu tinha de ter um irmão. No dia em que minha mãe foi fazer o ultra-som, foi junto com ela. Ela me pediu muito pra torcer que o resultado desse negativo. Não lembro direito o que falei, mas eu sabia que queria um irmão. Lembro que se desse certo, eu ia ganhar uma revista que era moda entre as crianças da época.
O resultado saiu na hora. Acho que minha mãe começou a chorar logo depois que a gente saiu. Ganhei a revista na insistência mesmo.
Mas o assunto do texto só surgiu porque comecei a sair com uma garota. Uma garota que tem uma filha (extremo da fofura, juro). O problema começou quando falei que a guria em questão tinha uma filha.
Sim, é bem estranho. Muito mesmo. Ela sabe que é estranho e ela sabe que não é normal, hoje, ter filhos com a idade que ela teve a sua filha.
A gente ainda ta se conhecendo, ainda é bem cedo pra dizer que vamos ficar o resto da vida juntos. Mas a gente ta gostando de ficar juntos. Quando digo a gente, quero dizer: eu, ela e a filha dela.
E mesmo eu falando pros meus pais que não sabemos nada disso, eles acham que a gente vai casar logo, e que (veja bem) ela vai me usar pra criar a criança dela.
Ela é mãe solo (!) (aprendi que não é mãe solteira!). O difícil é fazer meus pais entender uma situação dessas. Não é fácil mesmo, pra mim também foi bem estranho algumas vezes.
Mas sabe aquela coisa que eu falei ali em cima, de "não criar os filhos dos outros"? Então. Acho que isso fez toda a diferença do mundo pra minha vida.
Vamos supor que meus pais tivessem adotado uma criança logo após o aborto da minha mãe. Eu teria tido um irmão
E ai podia ter feito a diferença da minha vida. Não sei como. Não tenho como saber o que.
Eu não sei a diferença que isso teria causado na vida de uma única pessoa. A importância que ter uma família pra uma criança, teria sim feito toda a diferença na vida dela.
E isso é o que me deixa triste. Talvez até um pouco decepcionado. Um pouco comigo, mas também com meus pais.
Essa intolerância que eles tem aos filhos dos outros, sem saber como a criança ou a família estão, como elas vivem, ou se só conseguem sobreviver mesmo.

Eu não sei se vou conseguir ter filhos. Nunca fui, nem nunca pensei em fazer exames de fertilidade. Mas o que da pra dizer com muita certeza, é que se eu não puder ter filhos biológicos, vou adotar um. Ou mais,
Se eu puder ter filhos biológicos, com toda a certeza vou adotar também. Nenhuma criança merece ser órfã.
Nenhum filho precisa ser filho único.

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